09/02/2017

 Crédito: Renan Costantin

Pela primeira vez no Brasil, um veículo adaptado para o Gás Natural Veicular (GNV) ultrapassa fronteira do Brasil e vai até o Uruguai utilizando somente biometano (combustível semelhante ao GNV, obtido a partir da transformação de dejetos orgânicos). Graças a um projeto desenvolvido pelo Instituto Surear da Bahia, com o patrocínio da Sulgás a aventura ecológica se fez possível. 

A bordo de um Ford Ka, totalmente adaptado para essa missão, os pesquisadores Fabrizzio Cedraz Gaspar (presidente do Surear) e Alexandre Pereira Wentz, do Programa de Mestrado Profissional em Bionergia da Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC, vieram da Bahia ao Rio Grande do Sul para enfrentar o desafio. 

O projeto iniciou em Montenegro, onde o veículo foi abastecido com o biometano produzido na usina da Ecocitrus. De lá, a equipe partiu em direção do Uruguai, percorrendo 853,8 km apenas com o biometano existente nos cilindros. 

De acordo com Fabrizzio, para que o motor funcionasse a biometano, foi feita uma preparação específica, e para aumentar a capacidade de armazenamento dos cilindros foi realizado um resfriamento artificial com gelo. “O veículo possui uma capacidade de 34 m³ e, no início da viagem, com o resfriamento a 10ºC, foi possível aumentar para 36 m³ o volume de gás armazenado”, explica. 

“Conseguimos obter uma autonomia de 23,7 km/m³ de gás, desde Montenegro até o Uruguai. É a maior viagem feita sem reabastecimento e a primeira desse tipo com biometano. O que evidencia que veículos movidos a biometano podem alcançar maior autonomia e rendimento do mundo”, ressalta. Isso representa um incremento de 30% em relação ao rendimento da gasolina.

Crédito: Renan Costantin

Alexandre Pereira Wentz e Fabrizzio Cedraz

 

Governo uruguaio utilizará a experiência como referência para o desenvolvimento do biogás no país 

Divulgação: Instituto Surear

No Uruguai, os pesquisadores foram recebidos por autoridades uruguaias

Em sua estada no Uruguai, os pesquisadores foram recebidos por autoridades e imprensa do país. Em nota publicada em seu site, o Ministério de Indústria, Energia e Mineração afirmou que o projeto brasileiro servirá para aprofundar os estudos de biogás realizados pelo programa de governo chamado Biovalor, que recebe financiamento do Fundo para o Meio Ambiente Mundial e da iniciativa pública e privada. “O biometano para mobilidade pode resultar numa alternativa atrativa ao combustível tradicional em determinados setores agroindustriais nacionais, com altos consumos em máquinas agrícolas”, diz a nota. 

Os pesquisadores também visitaram a cidade de San José, onde foram recebidos para uma coletiva de imprensa. De acordo com a Diretora de Desenvolvimento da prefeitura, Mercedes Antía, o Departamento de San José irá iniciar a execução, nos próximos meses, de um projeto de produção de biogás em Colonia Alemana para aproveitamento dos resíduos orgânicos gerados pela atividade agrícola. A localidade também estuda desenvolver outros projetos. 

“Saber que existem pesquisadores e que existem fornecedores dispostos a transformar dejetos em combustível é algo fantástico. A partir de agora, teremos um vínculo que vai nos permitir fortalecer o nosso conhecimento. Para nós, este intercâmbio de experiências é realmente uma oportunidade importante para San José”, disse a dirigente. 

Além de aproximar o Brasil com outros países latino-americanos, o projeto também estimula a demanda pelo uso do metano, que eventualmente pode estar associado a outras fontes de energia renováveis, como forma de gerar desenvolvimento econômico sustentável para a América do Sul e alcançar uma maior aproximação entre as nações da região a partir de uma iniciativa regional.

 Divulgação: Sulgás

Antes de voltar para a Bahia, os pesquisadores foram recebidos pela equipe técnica da Sulgás para reunião de análise dos dados do desafio

Biometano será uma realidade no Estado

A Sulgás se prepara para lançar uma chamada pública para aquisição do biometano nos próximos meses. O primeiro passo para que isso ocorra está sendo dado. No fim de janeiro, a companhia fez o lançamento, no site, do convite para reuniões informativas com potenciais interessados para apresentação dos principais termos e condições do processo seletivo, que irão ocorrer até 10 de fevereiro.

“Tomamos essa decisão considerando o grau de inovação e de complexidade presentes em um empreendimento de produção de biometano em escala comercial, visto que se trata de algo novo no país”, esclarece Bragagnolo. 

O edital a ser lançado será para aquisição de até 200 mil metros cúbicos por dia de biometano, gás natural produzido a partir de resíduos agrícolas e pastoris. O GNVerde, marca registrada pela Sulgás para o biometano que será ofertado para o mercado, possui as mesmas aplicações do Gás Natural e se constitui em uma nova alternativa de combustível para as indústrias, comércios, residências e postos de GNV (gás natural veicular). O objetivo da chamada pública é selecionar projetos para produção desse gás em diferentes regiões do RS, viabilizando sua distribuição pela Sulgás para clientes que demandam gás natural, mas atualmente estão distantes da rede de distribuição da Sulgás. 

“Além de contribuir com o meio ambiente, dando um destino nobre para os resíduos provenientes de atividades agrícolas e pastoris, essa iniciativa estimula o desenvolvimento regional e promove a atração de investimentos para o nosso Estado”, afirma o diretor presidente da Sulgás, Claudemir Bragagnolo.
As especificações do biometano para fins comerciais foram estabelecidas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) em fevereiro de 2015, e a política para compra e venda desse combustível no Rio Grande do Sul foi regulamentada em maio de 2016, através da Lei Nº 14.864, que institui o Programa RS-Gás. 

Sulgás em Gramado e Canela

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